Foto: Divulgação
A arte mostra como o cinodonte achado na região seria. Ele é elo evolutivo entre répteis e mamíferos.
O Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa) da UFSM anunciou na segunda (29) a descoberta de mais uma espécie que viveu, há mais de 236 milhões de anos, na Região Central do que hoje é o Rio Grande do Sul. Porém, entre o achado do fóssil e sua identificação como novo animal, passaram-se 15 anos. No ano de 2009, os paleontólogos Lúcio Roberto-da-Silva e Sérgio Cabreira fizeram um achado notável no município de Dona Francisca.
O local, situado em camadas de rocha sedimentar, formadas durante o Período Triássico, entre 241 a 236 milhões de anos atrás, revelou um tesouro paleontológico surpreendente: um crânio completo, acompanhado de mandíbula. A descoberta ocorreu nas terras da família Bortolin, em uma área que se tornaria crucial para entender o passado distante da região.
O crânio pertencia a um cinodonte, um elo evolutivo entre “répteis” e mamíferos, que habitou a região antes mesmo do surgimento dos dinossauros. Espécimes tão completos deste intervalo de tempo são raros, o que tornou o achado ainda mais valioso aos olhos dos paleontólogos. Entretanto, por anos, não se sabia exatamente quem era aquele animal. Mais de uma década após a coleta do espécime, uma equipe de pesquisadores liderada pelo paleontólogo Leonardo Kerber, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), retomou os estudos sobre o fóssil. A identificação precisa da espécie revelou-se uma tarefa desafiadora, exigindo comparações minuciosas com dezenas de fósseis de coleções científicas no Brasil, Alemanha e Inglaterra. O processo incluiu ainda a tomografia do espécime por meio de um microtomógrafo de alta resolução, proporcionando uma visão de estruturas anatômicas não visíveis externamente.
No exterior
Surpreendentemente, o espécime apresentava características únicas que não se alinhavam com nenhuma espécie conhecida de cinodonte. Nesta semana, os autores publicaram o estudo no periódico internacional The Anatomical Record. Em homenagem ao município onde foi encontrado, os pesquisadores batizaram a nova espécie de Paratraversodon franciscaensis. Esta designação não apenas reconhece a importância do local, mas também destaca a singularidade do achado.
Paratraversodon franciscaensis era um animal herbívoro, do grupo dos Traversodontidae. O estudo revelou ainda que, diferentemente dos mamíferos atuais, é provável que o fosse um animal ectotérmico, ou seja, tivesse “sangue frio”, assemelhando-se aos comportamentos térmicos observados em lagartos e crocodilos. Naquela época, durante o Triássico, a maioria dos animais possuía esse tipo de metabolismo, já que as temperaturas eram muito mais elevadas do que as de hoje em dia. Além disso, as evidências sugerem que esses animais não possuíam um corpo coberto por pêlos, diferindo das características típicas dos mamíferos modernos.
O impacto dessa descoberta vai além da singularidade do Paratraversodon franciscaensis; ela proporciona uma rica fonte de informações sobre a fisiologia e evolução desses animais pré-históricos. O estudo aprofundado desse fóssil lança luz sobre uma fase crucial da história biológica da Terra, contribuindo significativamente para o entendimento de como esses seres evoluíram e moldaram o mundo em que vivemos hoje. O cinodonte não é um dinossauro. Ele viveu antes dos dinos e poderia ser considerado um avô dos mamíferos.
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*com informações do Cappa